A escrita

Como processo terapêutico.

Gênesis:

Tudo começou em meados de 2017, quando iniciei os atendimentos como psicólogo na clínica particular. Após anos de estudo, estágio e espera, pude inaugurar meu ser terapeuta.

A escuta e o acolhimento passaram a ser a base para minha atuação clínica, e na prática da escuta ativa pude me deparar com a beleza, a imensidão e a poesia que há nas histórias de vidas das pessoas e naquilo que elas expressam quando são verdadeiramente escutadas.

A partir de então comecei a escrever.

Não relatórios ou anotações pessoais dos casos, isso eu também fazia, mas comecei a escrever o que nomeei como “contos clínicos”.

Dois contos da época:

Café da manhã:

Ela me disse que estava lá
Em seu café da manhã
E que isso era estranho de se perceber
Sentir o gosto do café e do pão
Isso não era normal.

Não havia nada em seus pensamentos
Senão, o saborear do momento presente
Todas as tarefas do dia foram cumpridas
Despreocupadamente
Não era normal.

Ir ao trabalho e a terapia
Sem se pre-ocupar do tempo
Sentar no ponto de ônibus e aguardar
Sem pescoçar a cada segundo se ele vem
Não, não era normal!

Seus pensamentos quietos
Todas suas cobranças, pagas
A pressa, de férias
E isso, com certeza, não era normal

Como se o tempo se tornasse irrelevante
O medo, a ansiedade, suas tristezas
E tudo aquilo que perturbava sua mente
Fora!
E isso não era normal.

Uma tranquilidade inaugural
Uma serenidade inédita
Uma paz e um equilíbrio monástico
E isso não era nada normal

Como se naquele dia
Naquele café da manhã
Ela tivesse encontrado consigo mesma
E dado conta de que o tempo todo estava lá
E o não ter percebido isso antes
Não era nada normal.

Check-in Buenos Aires:

Quando me procurou, era uma jovem de 33 anos, pequena, com um sorriso grande e uma curiosidade maior que seu sorriso. Formada em pedagogia, trabalhava como cabeleireira e parecia não estar muito satisfeita com a profissão.

Insatisfação essa que agravou quando se envolveu e se apaixonou por um colega de trabalho que era casado, tinha filho e não podia abandonar sua família, tampouco suas aventuras sexuais esporádicas e o cuidado e o flerte que despendia para longe do seu lar.

Em sua memória, um pai que faleceu quando ainda era criança, deixando um anel de recordação e alguma herança. Além do incrível suco de acerola e as brincadeiras na praia que eram vívidas em sua memória.

Sua mãe não tinha estudo, tampouco ambições, logo se envolveu com um homem e terceirizou o cuidado da menina para uma tia que passou a ser um modelo de mulher batalhadora para ela.

Casou-se cedo, divorciou-se também.

Era um momento em que nada na vida lhe sustentava, a não ser o medo e a incerteza de um relacionamento inadequado, uma profissão mal remunerada e a solidão de quem teve que se virar sozinha desde muito cedo.

Ela só queria ter certeza de que não repetiria os mesmos erros e que essa viagem lhe traria “bons ares”, novos horizontes e possibilidades jamais vividas.

A terapia foi tão breve quanto tudo em sua vida parecia ser, mas pareceu suficiente para perceber que “estava pronta” para voar, mesmo que com algumas incertezas, inseguranças e toda sua história de vida na bagagem.

Check-in Realizado!
Faça boa viagem!

Desdobramentos:

Livro: A poesia clínica.

Todos os contos estão se reunindo em um livro de edição e publicação independentes.

Em breve será lançado!

Ticoesia:

Poesia minimalista no Instagram e Facebook desde 2015.

O encontro das palavras:

Inaugurado na clínica em 2023, trata-se de uma atividade de escrita criativa que tem como objetivo, juntar palavras e seus sentidos espalhados como numa nuvem de tags e compor frases e textos que se aproximam das emoções e sentimentos dos pacientes…

Tudo em um!

• Poesia minimalista • A poesia clínica • O encontro das palavras • Qual a sua poesia? • Poesia terapia • Encontros poéticos • Tudo em um

Contatos:

Se você se identificou com a proposta e quiser entrar em contato comigo:

Thiago Cavalcante

Psicólogo clínico, poeta, jardineiro e degustador de pratos, bebidas e histórias…